Movimento “De olho no material escolar” quer combater forma distorcida como o setor é visto pela sociedade urbana e retratado nos livros didáticos
Por Renato Villela
Chapeuzinho Vermelho caminha com seu cesto de maçãs a tiracolo, rumo à casa de sua avó. No trajeto, passa por uma paisagem estéril, repleta de tocos de árvores derrubadas. O vilão do conto de fadas dos irmãos Grimm não está presente nessa história. Os fazendeiros, que desmataram a floresta, também mataram o lobo. Esse trecho que você acabou de ler foi extraído de um livro didático para crianças do ensino fundamental e ilustra como o agronegócio pode ser retratado de forma distorcida dentro da escola.
Outro livro diz que a soja do MS tem o sangue de crianças indígenas. Num terceiro, ilustrações mostram meninos adoecendo após tomar banho em um rio, por causa de agrotóxicos. Para combater essa visão, por vezes enviesada do setor, um grupo de produtores e profissionais liberais se uniu para criar o movimento “De olho no material escolar”, que busca a “atualização de livros didáticos com base em conteúdo científico”.
“Não queremos romantizar o Agro, mas mostrar que existem outros pontos de vista”, diz Letícia Jacintho, produtora rural, membro do Núcleo Feminino do Agronegócio e uma das fundadoras do movimento.
A entidade começou a ser gestada em outubro de 2020 quando, por conta da pandemia, os pais passaram a acompanhar mais de perto as tarefas escolares de seus filhos, e se deram conta de que o conteúdo ensinado na sala de aula nem sempre condiz com a realidade do campo.
Em junho do ano passado, a organização foi constituída formalmente e hoje conta com 100 associados de 12 Estados, incluindo não apenas produtores, mas profissionais de outras áreas, como médicos, nutricionistas e advogados. “São pessoas que têm em comum o descontentamento em relação à forma como o Agro é tratado na educação”, diz Letícia.