Problemas de consumo por conta da crise econômica, pressão ambiental e a onda de proteínas vegetais tem nublado, aparentemente, o céu da produção de carne bovina no País.
Há espaço para que a produção mundial de carne possa crescer, abastecer adequadamente os consumidores e ainda preservar o meio ambiente?
Para o engenheiro agrônomo, Maurício Palma Nogueira, consultor de mercado e sócio-diretor da Athenagro, a resposta é bem clara: sim. No entanto, dependerá que o pecuarista aposte cada vez mais em produtividade.
“Seríamos capazes de ter toda a produção mundial de carne dentro do País”, diz Nogueira.
Na quarta-feira, 20 de outubro, um dos importantes consultores de pecuária do País deu início a 10ª edição do “Rally da Pecuária”, uma expedição privada envolvendo 15 Estados e seus principais polos de produção de bovinos.
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Investimento em produtividade
A hipótese de o Brasil poder produzir e incrementar drasticamente a produção de carne vem justamente dos dados de produtividade compilados nos últimos anos pelo Rally da Pecuária.
Segundo dados da Athenagro, Rally da Pecuária e IBGE, a média da produtividade nacional hoje é de 4 arrobas por hectare por ano (@/ha/ano).
Se a média nacional estivesse equiparada a das propriedades identificadas no Rally – com 24,4 @/ha/ano ou 33,8 @/ha/ano – o País facilmente incorporaria toda a produção de carne bovina do mundo.
Mundialmente, a estimativa é de uma produção de 70,1 milhões de toneladas de carne bovina. Baseada nas fazendas classificadas como os top 20% e top 10% do Rally da Pecuária, o Brasil produziria entre 60,4 milhões a 83,7 milhões de toneladas de carne.
“É um cálculo apenas teórico, pois nem teríamos vacas para fazer tudo isso. Mas é um número a se pensar. E por que essa conta é importante? Porque há diversas informações internacionais que sendo usadas falando que não dá para mantermos o consumo mundial de carne bovina nos níveis que comem um brasileiro, um argentino ou um uruguaio. E isso é mentira, pois dá para fazermos isso, sim”, diz o consultor.
Para isso, o pecuarista precisa necessariamente apostar em todas as tecnologias necessárias para aumentar a produtividade do seu rebanho.
Este é o único jeito, segundo Nogueira. “Não estamos falando aqui de produção de centro de pesquisa, mas de produção à campo mesmo, dentro do público que a gente analisa no rali”, diz.
Novo critério de remoção de carbono
Uma das grandes novidades da expedição deste ano é elaborar um critério de mensuração de sequestro de carbono averiguado pelas fazendas, sejam as propriedades que fazem integração de sistemas, sejam apenas com pastagens ou confinamento.
Segundo Maurício, serão coletados dados dos produtores e técnicos de campos, para ser relacionados a todas as pesquisas e estudos disponíveis sobre remoção de carbono no campo.
“Nós vamos ousar, sugerir no final do rally um critério para que as empresas tenham condições de analisar qual é a remoção de carbono na pecuária”, explica Nogueira.
Expedição virtual
Este ano a expedição teve seu formato renovado para colaborar com as medidas de distanciamento social diante da Covid-19 e será digital neste ano.
As pastagens serão analisadas com base em imagens de satélite, informações de centros de pesquisa e institutos de estatísticas, vistorias e dados históricos do Rally.
A organização da expedição manterá as visitas aos pecuaristas, desta vez por meio de plataformas de videoconferência, e fará eventos pela internet.