Setor pecuário da Argentina vive drama com restrições às exportações de carne bovina

Os bloqueios impostos pelo governo argentino, sobretudo ao mercado da China, favorecem os exportadores vizinhos, como o Brasil e o Uruguai, relata o Rabobank

Continue depois da publicidade

Em relatório divulgado nesta terça-feira (24 de agosto), o Rabobank, banco de origem holandesa, faz uma análise do mercado de carne bovina nos principais países produtores e exportadores da commodity, com destaque para o drama vivenciado pelo setor pecuário da Argentina, cujo governo suspendeu, a partir de maio (inicialmente, por um período de 30 dias), os embarques da proteína vermelha – uma iniciativa que visa controlar o quadro inflacionário naquele país.

Segundo o banco, em 22 de junho de 2021, o governo argentino implementou um novo sistema para restringir as exportações de carne bovina e, com isso, elevar a oferta doméstica de carne bovina.


Essa medida veio depois de 30 dias de suspensão dos embarques de carne bovina, a partir de 19 de maio de 2021.

As novas cotas agora limitam as exportações de carne argentina a 50% do volume médio mensal exportado de julho a dezembro de 2020.

Como a Argentina foi a quinto maior exportador mundial de carne bovina em 2020 e a segundo maior fornecedor da commodity para a China, o novo corte nos volumes de embarque tem potencial para impactar significativamente o comércio global de carne bovina, favorecendo concorrentes como o Brasil,  prevê o Rabobank.

O primeiro prazo para revisão da nova determinação é no final de agosto, com possibilidade de uma prorrogação até dezembro deste ano.

“O Rabobank entende que o novo sistema de exportação não será encerrado em agosto, embora seja possível que, eventualmente, alguns aspectos dessa medida sejam revisados, sobretudo em relação às importações aos mercados da China e de Israel, os principais clientes da carne bovina argentina”.

Como já mencionado acima, em 2020, a Argentina se consolidou como o quinto maior exportador mundial de carne bovina, impulsionado pela demanda chinesa, que representou 75% do total do embarcado pelo país.

No ano passado, a Argentina vendeu ao exterior 897.000 toneladas de carne bovina, um aumento de 6% sobre o volume recorde de 2019, que havia superado em 54% os resultados de exportação de 2018.

SAIBA MAIS | “Carne vermelha caiu no gosto do povo chinês, é uma questão de status social”, afirma consultor

No primeiro semestre de 2021, as exportações argentinas de carne vermelha totalizaram 419.000 toneladas, um avanço de 4% sobre igual período em 2020.

Como a primeira a suspensão temporária das exportações ocorreu em maio, o impacto da medida comprometeu os embarques realizados a partir de junho, que recuaram 31% sobre mesmo mês do ano passado.

Enquanto as vendas externas da Argentina mostravam forte crescimento antes da intervenção governamental, o consumo interno de carne bovina no país mantinha a tendência de queda observada desde 2018.

Em comparação com a média mensal de 2020, o consumo de carne bovina na Argentina no primeiro semestre de 2021 recuou 13% – o menor nível desde o início do série histórica, em 1958.

Segundo o Rabobank, os tipos de carne exportada à China não são exatamente os mesmos que são consumidos pelos argentinos. A maioria dos cortes vendidos ao mercado chinês é oriunda de vacas mais eradas e tem um valor relativamente baixo. Por sua vez, os consumidores argentinos dão preferência para cortes oriundos de animais mais jovens.

Com isso, as recentes quedas dos embarques ao mercado chinês resultou em redução nos preços desses animais mais velhos no mercado argentino, principalmente das vacas.

Portanto, na avaliação dos analistas do Rabobank, o aumento do volume de carne disponível para o mercado interno (estimulado pela intervenção governamental) não resolveu completamente o problema de preços elevados da carne bovina no mercado interno.

“Com inflação em alta  e a economia enfraquecida, esperamos que o consumo de carne na Argentina continuará limitado nos próximos meses, apesar das recentes suspensões de exportação”, reforça o Rabobank.

A taxa de inflação da Argentina atingiu 25,3% nos seis primeiros meses do ano e 50,2% nos últimos 12 meses.

Diferentes cenários – O Rabobank traçou três cenários possíveis para o setor de exportação de carne bovina na Argentina ao longo de 2021.

O primeiro deles prevê uma redução de 50% nos volumes mensais de exportação, de acordo com o respectivo mês do ano anterior, para todos os destinos, exceto para cotas de países terceiros (EUA e UE e, recentemente, Israel), até dezembro de 2021.

No cenário 2, o banco estima uma redução de 50% nos volumes mensais de exportação, de acordo com o respectivo mês do ano anterior, para todos os destinos, com exceção das vendas para a China (que seria retomadas a partir de setembro), além de EUA , UE e Israel.

No cenário 3, o banco prevê corte de 50% nos volumes mensais de exportação, de acordo com o respectivo mês do ano anterior, até agosto, com todos os embarques sendo permitidos pelo governo a partir de setembro.

No cenário 1, as exportações cairiam 23,5% na comparação com 2020, enquanto no cenário 2, a redução seria 9,5%, devido ao retorno dos embarques para a China. No cenário 3, a queda prevista nas exportações seria de 8,5%.

Na avaliação do banco, o cenário 2 seria o mais provável, pois atenderia às principais demandas do setor produtivo e, ao mesmo tempo, aumentaria a disponibilidade de carne bovina no mercado interno.

Histórico desfavorável – No passado recente, entre março e setembro de 2006, o governo argentino também adotou uma política de suspensão às exportações de carne bovina, relembra o Rabobank.

A partir dessa intervenção, entre 2006 e 2011, o rebanho bovino sofreu baixa de 20%, resultando em quase 12 milhões de cabeças a menos no plantel, diz o banco.

No mesmo período, a produção doméstica de carne bovina caiu 21%, enquanto o consumo interno teve retração de 11%.

Ainda neste mesmo intervalo de tempo, as exportações de carne bovina do país caíram 69%, o que resultou no fechamento de dezenas de matadouros e a consequente perda de milhares de empregos.

Avanço da carne brasileira – As  restrições aos embarques de carne argentina deve favorecer os mercados vizinhos, como o Brasil e o Uruguai, fortalecendo sobretudo os negócios com importadores da China.

As exportações brasileiras de carne bovina ao mercado chinês cresceram de maneira expressiva nos meses de junho e julho, justamente nos meses de maior ausência dos embarques de carne argentina, observa o Rabobank.

VEJA TAMBÉM | Carne bovina brasileira avança fortemente na China e faz concorrência comer poeira

Em junho, as vendas externas de carne brasileira à China cresceram 22% em relação a maio, para 82.000 toneladas. Em julho, subiram 11%, atingindo 91.000 toneladas, o maior volume embarcado desde dezembro de 2020.

Em julho, os embarques totais de carne bovina do Brasil atingiram o maior patamar dos últimos
oito meses, chegando a 191.000 toneladas.

No geral, as importações de carne bovina da China alcançaram 1,13 milhão de toneladas no primeiro semestre deste ano, um aumento de 14% sobre igual período de 2020.

O Brasil, que elevou os seus embarques em 23% durante os primeiros seis meses do ano, é disparado o principal fornecedor, respondendo por 38% das importações totais da China, seguido pela Argentina (com 21,8% de participação), Uruguai (13,8%), Nova Zelândia (9%) e Austrália (6,7%).

Enquanto os países da América do Sul elevaram os seus embarques ao mercado chinês, a Austrália, outro tradicional exportador mundial de carne bovina, reduziu em 53% as suas exportações ao gigante asiático, informa o Rabobank.

Preços em alta, baixos estoques internos e proibições em uma série de produtos explicam o fraco desempenho das vendas de carne bovina australiana à China. No primeiro semestre de 2021, o país da Oceania caiu para quinta colocação no ranking dos maiores exportadores de carne bovina ao país asiático, ante a terceira posição ocupada em anos anteriores, informa o Rabobank.

Ainda segundo o banco holandês, o volume de exportação de carne bovina dos EUA para a China cresceu oito vezes no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período no ano passado, tornando o país da América do Norte o sexto maior fornecedor mundial ao mercado chinês.

Gostou? Compartilhe:
Destaques de hoje no Portal DBO

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

clima tempo

São Paulo - SP

max

Máx.

--

min

Min.

--

017-rain

--

Chuva

008-windy

--

Vento

Continue depois da publicidade

Colunas e Artigos

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Leilões em destaque

Continue depois da publicidade

Newsletter

Newsletter

Jornal de Leilões

Os destaques do dia da pecuária de corte, pecuária leiteira e agricultura diretamente no seu e-mail.

Continue depois da publicidade

Vaca - 30 dias

Boi Gordo - 30 dias

Fonte: Scot Consultoria

Vaca - 30 dias

Boi Gordo - 30 dias

Fonte: Scot Consultoria

Continue depois da publicidade

Programas

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Continue depois da publicidade

Encontre as principais notícias e conteúdos técnicos dos segmentos de corte, leite, agricultura, além da mais completa cobertura dos leilões de todo o Brasil.

Encontre o que você procura: