Mais uma semana se passou sem nenhuma manifestação dos chineses (pelo menos até a noite desta quinta-feira, 23 de setembro) com relação à suspensão das exportações brasileiras de carne bovina para aquele mercado, relata o médico veterinário Leandro Bovo, sócio e diretor da Radar Investimentos, de São Paulo.
Desde o início de setembro, os embarques da proteína vermelha ao mercado da China foram suspensos voluntariamente pelo governo brasileiro (seguindo as normas do acordo bilateral entre os dois países), após a confirmação de dois casos atípicos de “vaca louca” (Encefalopatia Espongiforme Bovina-EEB) no Brasil (em Minas Gerais e no Mato Grosso).
“O silêncio ensurdecedor do nosso principal parceiro comercial aumenta a preocupação de frigoríficos e pecuaristas a cada dia que não temos um posicionamento das autoridades chinesas a esse respeito”, afirma Bovo.
Na avaliação de Bovo, uma vez que a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) já deu o caso por encerrado e manteve o status de risco do Brasil inalterado para a EEE, não existem justificativas técnicas para a manutenção do embargo.
“Porém, também não existe um prazo limite para os chineses analisarem as nossas informações e retomarem as compras, de modo que agora ficamos inteiramente nas mãos da decisão do governo chinês nessa questão”, acrescenta.
Segundo o diretor da Radar Investimentos, a cada dia que passa, vai ficando menor a margem de manobra dos pecuaristas de segurar as vendas dos animais à espera da normalização do mercado.
“Muitos acabam tendo que entregar nos preços vigentes para evitar prejuízos maiores”, diz Bovo.
Com isso, continua ele, a referência de negócios em São Paulo já se situa ao redor do patamar de R$ 300/@, com o último indicador Esalq a R$ 299,30/@.
Embarques surpreendem – Um fator que tem chamado atenção no mercado foi a manutenção de um ritmo fortíssimo de exportação durante o mês de setembro, destaca Bovo.
Caso seja mantido esse ritmo, diz ele, é possível que o Brasil consiga, em setembro, bater um novo recorde de embarques de carne bovina brasileira em um único mês.
“Se considerarmos apenas China (descontando a participação de Hong Kong), ela absorve cerca de 50% de tudo o que o Brasil exporta de carne bovina, sendo muito pouco provável que esse volume tenha sido direcionado a outro comprador nesse curto intervalo de tempo”, avalia Bovo.
Dessa maneira, continua ele, o mais provável é que os exportadores sigam embarcando para a China a carne produzida antes do embargo.
Segundo Bovo, alguns exportadores já embarcaram a carne ao mercado da China, apostando no fim do bloqueio comercial até a chegada do produto em território chinês, o que leva ao redor de 30 dias.
“Essa aposta, entretanto, representa um risco adicional para toda a cadeia pecuária, pois, se os chineses se aproveitarem dessa situação para tentar tirar qualquer proveito comercial, infelizmente isso também terá reflexos no mercado físico do boi gordo”, observa Bovo.
Por enquanto, acrescenta ele, “torcemos pelo melhor, mas é obrigação de todos analisar a situação e já ter um plano ‘B’ definido para caso o melhor não aconteça”.
Na opinião de Bovo, quem fez a lição de casa e aproveitou os preços do mercado futuro para fixar valores ou para comprar seguro de preço mínimo irá enfrentar essa espera de uma forma mais confortável.