A redução da produção de carne causada pelo fechamento e desaceleração de fábricas nos EUA criou um gargalo maciço na cadeia pecuária do país, relata reportagem do portal norte-americano Feedstuffs. Quase duas dúzias de plantas que processam produtos de carne bovina e suína fecharam em abril devido ao surto de Covid-19, enquanto muitas outras tiveram que desacelerar a sua produção.
Segundo um novo relatório do CoBank, mesmo que a redução da capacidade de processamento seja temporária, provavelmente terá um impacto duradouro nos processadores de carne, produtores de gado, lojas de varejo e consumidores norte-americanos. O suprimento de carne para os supermercados de varejo pode encolher quase 30% até o feriado do Memorial Day (que ocorre na última segunda-feira de maio), levando ao aumento de 20% nos preços de suínos e bovinos em relação aos patamares do ano passado.
“As margens para os criadores de gado e suínos caíram para mínimos de vários anos”, disse Will Sawyer, principal economista de proteína animal do CoBank. “Com o fechamento das fábricas de carne, os pecuaristas ficaram com poucas opções para a venda do gado, exigindo que os rebanhos sejam abatidos”, acrescenta.
O encolhimento no rebanho de gado dos EUA provavelmente tornará a escassez de suprimento de alimentos mais aguda no final do ano, prevê Sawyer. A produção de carne suína e bovina caiu aproximadamente 35% em relação ao mesmo período do ano passado, tornando a escassez de varejo e a inflação de preços quase garantidas, acrescentou o economista.
Nas próximas semanas, os produtores de suínos ainda podem ser forçados a sacrificar até 7 milhões de porcos apenas no segundo trimestre, o que significaria um prejuízo de quase US$ 700 milhões, considerando os preços médios históricos. Isso diminuiria ainda mais o suprimento de carne neste outono e aumentaria os bilhões de dólares em perdas, devido aos preços mais baixos dos animais.
A queda na produção de carne em abril provavelmente levará a uma redução na oferta aos pontos de varejo em maio e junho. Os supermercados provavelmente já estão racionando os seus atuais estoques de carne. “Reduções significativas no suprimento de carne levarão a uma inflação substancial nos preços de varejo de carne bovina e suína” disse Sawyer, completando: “Nos últimos 20 anos, os preços de varejo da carne suína sofreram inflação de mais de 10% apenas duas vezes; em nenhum desses momentos vimos a inflação subir para 20%, o que pode ocorrer nos próximos meses”, alertou.
O CoBank disse que a ordem executiva do presidente Donald Trump de reabrir frigoríficos fechados pode ajudar a conter a maré de fechamentos adicionais e abrir o caminho para que as fábricas fechadas reabram. Os processadores de carne instituíram várias medidas para garantir a segurança dos funcionários, reduzir a disseminação da Covid-19 e manter o suprimento de proteínas em movimento. No entanto, atrair trabalhadores suficientes para preencher as milhares de vagas em fábricas de carne nos EUA pode ser um desafio no curto prazo, observou o banco.
Em relação ao consumo doméstico, o CoBank disse que os frigoríficos fechados significam menos carne nas prateleiras dois supermercados nas próximas semanas. “Até este momento, os consumidores dos EUA puderam confiar em supermercados, pois muitos restaurantes em todo o país fecharam em resposta a pedidos de ‘ficar em casa’ em muitas cidades e estados”, informou o banco. “Como as comunidades reabrem com apenas cerca de uma semana de suprimento de carne no armazenamento a frio, a escassez e a falta de estocagem no caso de carne não poderiam ocorrer em um momento pior”, avalia o CoBank. A inflação de alimentos e uma economia fraca dos EUA é uma combinação que deixará muitos consumidores com maior tensão financeira, acrescenta o banco. Fonte: Feedstuffs (editado e adaptado por Dênis Cardoso)
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