Enrico Ortolani, professor titular da FMVZ-USP, aponta em artigo os riscos de se ter um animal velho na fazenda, vide os casos atípicos de vaca louca notificados pelo Mapa em setembro
Por Enrico Ortolani – Professor titular de Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP (ortolani@usp.br)
Os dois recentes casos “atípicos” de vaca louca, chamada cientificamente de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), fazem parte dos cinco, até agora, notificados pelo MAPA, que só ocorreram em vacas velhas (11 a 17 anos) e de corte. Na EEB atípica existe mutação espontânea de uma proteína do organismo, chamada de príon, que modifica sua estrutura química e leva as células nervosas a multiplicá-la sem parar, matando o animal.
A EEB tradicional, que dizimou milhares de bovinos na terra do Big Ben, atingiu boiadas acima de três anos e se originou a partir da ingestão desses príons alterados, presentes em farinha de carne e de ossos. Você irá se espantar, mas pra’quelas bandas, permitia-se fazer essa farinha com bovinos recém-mortos ou semimortos, coletados por um tipo de agente funerário bovino.
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Tudo começou com um animal que tinha EEB atípica e virou ração. Com o aumento do número de casos, cujos bois também viraram farinha, a doença tomou proporção alarmante. Dez anos mais tarde, o problema atingiu uma centena de seres humanos que consumiram cérebro, medula e baço contaminados, presentes em alguns subprodutos cárneos.
Lição não aprendida
Toda ação desencadeia uma reação. Um único caso atípico, no Brasil, em 2019, levou muitos importadores e frigoríficos a pararem temporariamente as compras, o que gerou queda de 4% na arroba. A inadvertência de alguns pecuaristas, e quiçá de alguns frigoríficos, de comercializar vacas muito velhas trouxe um prejuízo para toda a cadeia pecuária. O problema é que a lição não foi aprendida, pois outra com EEB atípica foi detectada no mesmo frigorífico de Nova Canaã do Norte (MT) em 2021. Uma lástima!