Os números revelados pela Abitrigo durante coletiva a jornalistas desta terça-feira, 26 de março, em São Paulo, indicam que a moagem nacional do cereal subiu 3,4% em 2018, atingindo 12,1 milhões de toneladas de trigo, sendo que cerca de 7 milhões de toneladas são de grãos importados, especialmente da Argentina.
O presidente da Abitrigo, embaixador Rubens Barbosa, informou que a entidade realizou pesquisa com as 160 moageiras industriais instaladas no Brasil, das quais 43 são associadas, para determinar os números e a relevância do setor. O consumo per capita de farinha foi positivo, evoluindo de 44,8 kg/ano em 2017 para 45,5 kg/ano em 2018, fator que explica o otimismo do setor.
A estagnação da produção brasileira de trigo nos últimos anos, de acordo com o presidente da Abitrigo, deve-se a fatores como a alta concentração da produção nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, como cultura típica de inverno, afeita ao frio, e porque há poucas variedades disponíveis de sementes adaptadas para o clima quente do Cerrado.
A Embrapa, segundo Barbosa, tem acelerado pesquisas de melhoramento genético para desenvolver variedades que sejam resistentes aos ataques da Bruzone (doença fúngica), e também tolerantes ao calor do Centro-Oeste, e recomenda hoje o plantio do cereal no norte do Mato Grosso, mas a logística de armazenamento e transporte encarece o cereal produzido naquela região.
Diante dessas questões, a Abitrigo sugeriu ao governo federal um plano de Política Nacional do Trigo, para incentivar a expansão da produção nacional no médio e longo prazo. A ministra Tereza Cristina mostrou-se simpática aos pleitos encaminhados pela Abitrigo, mas nada foi resolvido ainda diante do curto espaço de tempo que o governo tomou posse.
O crescimento da produção de trigo, segundo Barbosa, se daria pelo aumento da área plantada no Centro-Oeste e também pela melhoria da produtividade. O aumento da produtividade média esbarra nas doenças e no clima, o que encarece os custos de produção, tornando a cultura do trigo desinteressante para os produtores não especializados. De outro lado, o atual governo Bolsonaro mostra-se resistente em autorizar despesas com subsídios de qualquer natureza.
A produção na Argentina tem batido recordes nos últimos anos. Ao mesmo tempo, a importação de 750 mil toneladas de trigo americano, sem a cobrança de taxas alfandegárias, autorizada pelo presidente Bolsonaro durante sua viagem aos EUA , exercerá pressão sobre os preços do trigo nacional. Por isso, Rubens Barbosa acredita que o triticultor só vai sobreviver bem se melhorar a produtividade da sua lavoura, utilizando-se de modernas tecnologias agronômicas.
A Abitrigo detalhou que o crescimento da indústria nacional de moagem tem sido expressivo, os moinhos continuam investindo em tecnologia de produção, e foi um dos únicos setores da área industrial no Brasil que não demitiu empregados em 2017/18.