Enquanto o mundo continua a ser dominado pelo avanço do novo coronavírus, o outro principal vírus que também surgiu na China – a peste suína africana (ASF, na sigla em inglês) – continua a criar um vazio enorme no suprimento mundial de proteínas, relatou Scott Tolmie, gerente de inteligência de mercado da Meat & Livestock Australia MLA, na conferência Protein 2020, em Dalby. A reportagem é do portal australiano Beef Central.
Segundo Tolmei, as consequências da epidemia da ASF que varreu a população de porcos da China alimentaram enormes oportunidades de exportação de curto prazo para as indústrias de carne de todos os tamanhos.
No entanto, também deve resultar em ganhos mais duradouros para a carne bovina australiana quando os impactos atuais na produção de carne suína diminuírem, disse Tolmie.
De acordo com o gerente da MLA, 63% da proteína consumida na China é carne de porco, totalizando 56 milhões de toneladas por ano. A destruição maciça de porcos causada pelo próprio ASF e o abate para tentar conter a doença resultaram em um déficit maciço de proteínas na China, estimado em 20 a 25 milhões de toneladas este ano, relatou Tolmie.
“A expectativa é de que demore até 2021 antes de começarmos a ver o enorme déficit de carne de porco na China começar a diminuir novamente”, previu ele. Considerando que toda a produção anual de carne bovina da Austrália totaliza apenas 2 milhões de toneladas ajuda a ilustrar o tamanho do déficit de 20-25 milhões de toneladas deixado pela ASF no fornecimento de proteína da China. O resultado foi que a China está buscando proteína em qualquer lugar que possa encontrá-la, acrescentou.
“Estamos chamando de turbilhão chinês porque eles estão sugando produtos de qualquer lugar que puderem no mercado”, justificou ele. “A China está procurando fornecedores o mais longe possível para colocar as proteínas de volta em seu mercado”, completou.
Segundo Tolmie, as importações de carne bovina de uma variedade crescente de fontes aumentaram nos últimos 12 meses. Em 2015, antes do surto de ASF, seis países exportadores de carne bovina foram aprovados para fornecer carne bovina à China, mas agora existem 28, compara. O déficit forçou os preços de todas as proteínas a aumentar, com destaque para os avanços nas cotações da carne suína. Isso também criou oportunidades potencialmente importantes a longo prazo para carne bovina e ovina, disse Tolmie.
“Quando a carne de porco aumenta (de preço) de forma tão significativa, de repente, a carne bovina e a ovelha não parecem tão caras quanto costumavam ser”, avaliou.
“Existe uma oportunidade real, pois as pessoas que não podem consumir carne de porco começam a pensar em outras proteínas, afirmou. “Esperamos que, quando a produção de carne de porco retornar à normalidade na China, os consumidores continuem, mesmo assim, consumindo carne bovina e ovina australiana”, disse.
Dependência da China
À medida que a China expande sua dependência de um bloco crescente de países para obter a proteína, muitos países exportadores estão fazendo o oposto, aumentando sua dependência da China como mercado único, alerta Tolmie. Por exemplo, a China (incluindo Hong Kong) agora representa mais de 50% das exportações de carne bovina do Brasil, 76% da Argentina e 48% dos embarques da Nova Zelândia.
Por sua vez, a Austrália possui um leque de clientes mais equilibrado. Atualmente, as compras chinesas representam 24% das exportações totais de carne bovina australiana. “Para todos esses países, existem grandes oportunidades, mas também há riscos envolvidos”, considerou gerente de inteligência de mercado da Meat & Livestock Australia MLA.
