A pecuária leiteira vem sofrendo constantes transformações, havendo nos últimos anos uma evolução muito grande quanto a genética, nutrição e sanidade animal. Questões relacionadas a doenças e ao bem-estar animal merecem grande atenção e, mesmo havendo constante desenvolvimento de estratégias de controle e prevenção dessas enfermidades, há uma doença que continua sendo altamente relevante na atividade, a mastite.
A mastite é a patologia de maior impacto na atividade leiteira mundial, afetando diretamente os animais, os pecuaristas, a indústria e o consumidor final. Estima-se que os prejuízos produtivos decorrentes da mastite no Brasil sejam da ordem de 12 a 15%, o que significa uma perda de cerca de 4 bilhões de litros de leite por ano.
A mastite é caracterizada como a inflamação da glândula mamária, na maioria das vezes de origem infecciosa, que pode ser classificada de acordo com a sua forma de manifestação, mastite clínica ou subclínica. A forma clínica da doença é aquela no qual é possível o diagnóstico sem a necessidade de exames complementares, ou seja, através da visualização de diversos sinais evidentes de inflamação local, tais como: edema, vermelhidão, dor, aumento da temperatura, endurecimento da glândula e presença de grumos no leite, entre outros. Quanto à forma subclínica, não são observados sinais clínicos visíveis no animal, apenas mudanças na composição do leite, necessitando de exames complementares para a detecção da enfermidade.
Independentemente do tipo de mastite apresentado pela vaca, o tratamento se faz necessário e é uma das formas mais práticas e efetivas de controle, podendo ser feito na lactação ou no período seco, a depender do agente etiológico. O diagnóstico e tratamento precoce é recomendado, visto que reduz os prejuízos potenciais, além de reestabelecer a produção normal de leite do quarto mamário afetado, com aumento significativo da produção quando comparado a um animal não tratado.
Quanto as formas de tratamento, diversos tipos de medicamentos são descritos pela literatura, havendo um consenso entre a maioria dos autores sobre importância do uso antimicrobianos para combater a infecção do úbere. São várias as formulações disponíveis no mercado destinadas ao tratamento da mastite, podendo ser administrado de forma injetável ou via intramamária. A aplicação local de bisnagas intramamárias é a forma mais comum de tratamento, inclusive com a vantagem de atuar somente no quarto mamário infectado, ausentando de resíduos os quartos restantes.
Outro ponto altamente relevante na conduta terapêutica para a resolução da mastite é a utilização de anti-inflamatórios, principalmente na indução de analgesia local. A reação inflamatória local, associada a doenças de origem inflamatória, como a mastite, é provavelmente a maior causa de dor em bovinos, afetando diretamente o bem-estar animal. Além do desconforto promovido pela dor, há pesquisas que comprovam o prejuízo que a mesma resulta. Animais com dor diminuem a ingestão de alimentos, o que reflete diretamente em menor produção leite, também interferindo negativamente na velocidade e qualidade da recuperação do animal.
Os anti-inflamatórios mais utilizados são os não esteroidais (AINEs), que são indicados para aliviar os sinais clínicos sistêmicos e locais da inflamação consequentes a elevação de mediadores inflamatórios, como prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos. O controle desses mediadores reflete diretamente na resolução da inflamação, da febre e da dor característica das mastites clínicas, principalmente nos casos agudos e superagudo.
Dentre as drogas anti-inflamatórias atuais, uma das mais e modernas é o Meloxicam, potente inibidor de tromboxanos e prostaglandinas. Meloxicam é um anti-inflamatório não esteroidal classificado como inibidor preferencial da enzima Ciclooxigenase 2 (COX-2). A enzima Ciclooxigenase 2 (COX-2) é responsável principalmente por promover os sinais clássicos da inflamação, sendo classificada como uma enzima essencialmente inflamatória, enquanto a Ciclooxigenase tipo 1 (COX-1) é classificada como constitutiva, responsável por funções fisiológicas do organismo. Medicamentos como o Meloxicam, de ação seletiva para COX-2, evitam a manifestação de efeitos colaterais, sobretudo aqueles relacionados a lesões renais e gastrintestinais, o que torna seu uso recomendado em tratamentos prolongados, tanto em bovinos, quanto em equinos.
Outro ponto forte do Meloxicam é seu longo período de ação anti-inflamatória, principalmente quando utilizado por via subcutânea, apresentando pico de ação rápido e meia vida mais longa do que outros AINEs disponíveis no mercado, o que permite aplicações em intervalos de 24 horas, facilitando o manejo da fazenda. Adicionalmente, estudos norte-americanos comprovam que o uso de Meloxicam em vacas acometidas com mastite clínica também reduz de maneira significativa a Contagem de Células Somáticas (CCS) das vacas tratadas, além de reduzir o risco desse animal ser removido do rebanho, tornando esse AINE uma das soluções mais indicadas para vacas leiteiras.