Para o zootecnista Danilo Grandini, carne não deve ser vista como commodity; há muitas formas de agregar valor. Confira o artigo publicado na edição de novembro
Por Danilo Grandini – Zootecnista, com pós-graduacão em análise econômica e diretor Global de Marketing Bovinos da Phibro .
Nos idos de 2004, lá fui eu para a França participar de um curso de produção e qualidade de carne, além de visitar fazendas de corte nos dias anteriores ao evento. Os palestrantes eram do Institut National de la Recherche Agronomique (Inra) e do Institut de L’élevage – o primeiro, uma das instituições públicas de pesquisa mais renomadas na Europa; o segundo, um instituto responsável por pesquisas econômicas/políticas setoriais e divulgação de práticas de produção.
Ao INRA coube apresentar, no curso, os tópicos relacionados à fisiologia, metabolismo e nutrição de bovinos de corte; e ao Institut de L’Elevage, abordar os modelo de produção e tipificação de carcaça da Europa.
Na vida, existem momentos em que frases são guardadas profundamente, muitas vezes porque são antíteses daquilo que sabemos. No intervalo entre as apresentações, notei que o profissional do Institut de L’elevage tinha um particular interesse pela América Latina, fazendo inúmeras perguntas sobre os modelos de produção brasileiro e argentino, especialmente sobre componentes de custos de médio e longo prazos.
Por fim, prometeu nos fazer uma visita quanto viesse à América do Sul, promessa que cumpriu! Depois, descobri que esse senhor era um importante diretor do Institut de L’Elevage, responsável pela política de tarifas praticada sobre a carne bovina exportada à França.
Pois bem, em uma de nossas conversas, perguntei se ele não temia que a carne brasileira, devido ao seu menor custo, pudesse representar uma ameaça para os produtores franceses. Ele claramente explicou as medidas que protegiam o mercado de seu país e me disse, olho no olho e num tom especialmente pausado, como querendo me ensinar algo: “Carne bovina não é commodity”.
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Passado o tempo, entendi o que isso queria dizer, no sentido mais amplo da palavra! Nem sempre a natureza, a otimização dos componentes de custos e a produtividade favorecem uma cadeia dedicada à produção de bovinos, que tem ciclo longo e passa por um sem-fim de fatores do nascimento ao abate. Faz-se necessário, também, agregar-lhe valor.