Um relatório da consultoria americana Fitch Solutions aponta para uma tendência de aceleração no consumo mundial de proteína animal no cenário pós-covid, mas que esta aceleração será bem menor para a carne bovina.
A informação foi divulgada na sexta-feira passada (30/4) no Boletim 43 do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CiCarne), ligado à Embrapa, e que passa a acessar os relatórios de uma das empresas do conglomerado de consultorias do Fitch Group, que detém uma das maiores agências de risco do mundo, a Fitch Ratings.
O boletim foi elaborado pelos pesquisadores Fernando Rodrigues Teixeira Dias, da Embrapa Pantanal, de Corumbá (MS); Sergio Raposo de Medeiros, da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP); e Guilherme Cunha Malafaia, da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande (MS).
Análise
O menor desempenho da carne bovina saiu do relatório “Beef Lags In Post-Covid-19 Meat Consumption Acceleration” (“A carne bovina fica atrasada na aceleração do consumo de carne pós-Covid-19”, na tradução livre para o português).
Segundo os pesquisadores do CiCarne, além de apresentar as conclusões do relatório americano, o boletim contrapõe com análises de tendências e oportunidades para a bovinocultura de corte no Brasil.
O que diz o relatório?
O consumo de proteína animal deve se manter acelerado até 2025 em relação aos últimos dez anos, por causa da recuperação do surto de peste suína africana (PSA) na Ásia e da pandemia global da Covid-19.
Já o consumo de carne bovina per capita, que cresceu mais lentamente nos anos anteriores à Covid-19, deve se recuperar ao longo de 2021-2022 antes de estagnar até 2025.
O consumo de carne de porco e de aves per capita vai crescer intensamente e superar em muito a carne bovina, com as aves continuando a ser a carne mais consumida globalmente.
Os obstáculos ao consumo de carne bovina seguem crescendo em mercados desenvolvidos, com uma tendência de diminuição do consumo nesses países, com a notável exceção da Coreia do Sul, além de uma influência sobre a questão ambiental na criação de bovinos e a entrada no mercado de proteínas alternativas.
China
Nos mercados emergentes, o crescimento do consumo de carne bovina per capita será impulsionado pelo sudeste Asiático e China, com novos picos nos próximos anos.
Embora o maior país asiático continue sendo o mercado de maior demanda, os consumidores devem reajustar seus hábitos à medida que a oferta de carne suína for se recuperando do surto de PSA, o que reduzirá um pouco o crescimento do consumo de carne bovina nos próximos anos.
A América Latina experimentará um grande crescimento no consumo de carne bovina per capita no curto prazo, impulsionado pela melhoria das condições econômicas, mas o crescimento do consumo desacelerará até 2025 e não retornará aos níveis de picos anteriores.
O outro lado da moeda
Segundo os analistas do CiCarne, as tendências de redução de consumo em países desenvolvidos podem impactar negativamente a exportação da carne brasileira para estes mercados, em especial Estados Unidos e Europa, sobretudo na questão ambiental. Mas nem tudo está perdido se o País continuar apostando em tecnologias e maior transparência.
“Nós acreditamos que o emprego de tecnologia e a boa comunicação podem representar forças que se contrapõem a essas tendências em defesa da exportação da carne bovina nacional e da manutenção do consumo interno”, diz o Boletim.
Na avaliação dos pesquisadores do CiCarne, o grande trunfo do País está no maior desenvolvimento de tecnologias para reduzir emissões de gases de efeito estufa em criações de bovinos, maior apelo a criação a pasto, adoção de sistemas de integração de lavoura com a pecuária, incluindo técnicas de plantio direto.
“Mesmo a questão sensível da Amazônia precisa ser vista à luz de um histórico recente de desacoplamento entre bovinocultura e desmatamento. Há sérias dúvidas, também, quanto à capacidade das carnes alternativas em substituir fortemente a carne convencional, especialmente a carne celular”, diz o Boletim do CiCarne.