A agricultura de precisão foi criada com o objetivo de identificar as diferenças de produtividade do solo e áreas mais afetadas por pragas para a aplicação correta da quantidade de fertilizantes e insumos. No entanto, a metodologia tem passado por obstáculos pela carência de informações tecnológicas disponíveis, o que faz com que produtores não aproveitem o potencial máximo dessa inovação.
Uma pesquisa da Kleffmann Group junto a 992 produtores apontou que 45% deles utilizavam alguma técnica de agricultura de precisão na propriedade, entre elas a aplicação de sementes em população variável, pulverização e fertilização em doses variáveis, e o mapeamento da fertilidade do solo. O levantamento de 2013 foi feito entre produtores de soja, trigo e milho nas regiões Sul, Cerrado e Matopiba (composta pelos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O resultado revela que pouco mais de 15 % dos produtores utilizam, de fato, técnicas de amostragem de solo para obter mapas com diagnósticos da variabilidade espacial da fertilidade da terra, o que equivale a 9 milhões de 59 milhões de hectares pesquisados.
O estudo identificou ainda que a tecnologia mais adotada pelos produtores é o uso de piloto automático e que 58% dos agricultores tinham intenção de continuar investindo em novas tecnologias.
Segundo o professor José Paulo Molin, coordenador do Laboratório de Agricultura de Precisão da Usp-Esalq, a adesão dos métodos ainda é baixa pois o assunto é muito novo no mercado, com cerca de 16 anos de existência, fator que acarreta uma certa limitação do entendimento sobre a atividade.
“Tem que conhecer para entender e fazer. E, se quiser fazer, tem que ter algum empenho financeiro. Então, o que precisa é massificação da informação, divulgar em todos os níveis por meio de formadores de opinião para que adquira valor nas comunidades”, recomenda Molin.
De acordo com o pesquisador Ricardo Inamasu, da Embrapa Instrumentação o sistema ainda é complexo e exige muita informação, o que torna a adoção complicada pelos agricultores.
“Nós desenvolvemos muito conhecimento, mas é um pouco difícil de ser absorvido pelo setor produtivo. Nós temos uma porcentagem significativa de produtores que já adotam agricultura de precisão, mas para aumentá-la, entendemos ser necessário desenvolver procedimentos mais adequados que favoreçam a aplicação”.
Parceria
Por meio da parceria entre pesquisadores da Embrapa, de instituições privadas e produtores, o Instituto Matogrossense do Algodão (IMA) está desenvolvendo metodologias e procedimentos para facilitar o uso da agricultura de precisão. O IMA entra com recursos e o trabalho em campo e a Embrapa com o apoio técnico de pesquisadores de ponta na área.
“Lançamos um desafio junto com a Embrapa para desenvolver um sistema que sirva ao produtor para a tomada de decisões a tempo de corrigir eventual distorção de produção, da lavoura ainda para esta safra”, comenta o diretor-executivo do IMA, Álvaro Salles.
Salles destaca que a maior dificuldade entre os produtores da região é interpretar as informações colhidas em campo pela tecnologia e utilizá-las em tempo hábil. Ele defende que esta lacuna seja superada com investimento em pesquisa e capacitação.
“O desafio é realmente pesquisa e correlacionar os dados, porque a tecnologia está correndo muito mais rápido do que o conhecimento disponível”.
O produtor relata que o projeto permitiu identificar que poucos produtores de soja e algodão do Mato Grosso utilizam todo o potencial da tecnologia disponível no mercado.
“Alguns produtores não utilizam praticamente nada, muito por desconhecimento e falta de conectividade. Compram uma máquina nova que tem todo o aparato, tecnologia embarcada, mas junto de máquinas antigas que não dispõem dessa tecnologia”, finaliza Salles.