O mercado halal para a carne bovina foi tema central do DBO Entrevista de segunda-feira (9/11), com a participação do executivo Ali Saifi, CEO da Cdial Halal, uma das principais certificadoras para exportação de produtos halal, um mercado que apenas para a carne bovina é contado em bilhões de dólares. Para Saifi, este é um mercado que só tende a crescer. E não por menos. Estima-se que a comunidade islâmica, de atuais 1,8 bilhão de pessoas, deve chegar a 2,2 bilhões em 2030 e em 2,76 bilhões em 2050. O Brasil pode ser um dos principais fornecedores de alimentos para essa população.
A palavra halal vem do árabe e significa “lícito” ou permitido. Qualquer pessoa de origem islâmica só pode se guiar por uma postura “lícita”, seja na vida e no consumo de alimentos, caso contrário estariam cometendo “haram”, que significa “ilícito” ou “pecado”. Os pecuaristas brasileiros se encaixam com perfeição para atender a esse mercado bilionário e regrado. O mercado global é da ordem de US$ 2,1 trilhões, dos quais cerca de US$ 1 bilhão no Brasil.
Para o País, trata-se de um mercado de exportação de quase US$ 2 bilhões no ano passado, com vendas de carne bovina e de bovinos vivos, para o grupo de 57 países islâmicos que integram a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI). Foi justamente por causa de episódios envolvendo a exportação de gado vivo que o mercado halal ficou mais em evidência, como a paralisação de um navio no Porto de Santos por ativistas. A embarcação que ia para a Turquia, ficou parada por cerca de 1 dia, sob denúncias de maus tratos com animais, no início de 2018.
“É um mercado muito importante para o Brasil, pois ele é o maior produtor de proteína animal halal do mundo. Dizer que o Brasil não pode exportar animal vivo por causa do abate halal é não entender do que está falando”, diz Ali Saifi, da Cdial Halal.
Maus tratos é “haram”
Nas escrituras sagradas do Islã, Saifi lembra que para um pecador entrar no Paraíso pode bastar que ele dê de beber ou de comer a um animal que estava com sede ou com fome. Por outro lado, uma pessoa que simplesmente deixar um animal morrer de fome será castigada. “Isso exemplifica a tamanha importância do bem-estar animal para os países islâmicos”, explica Saifi.
Para assegurar que a população cumpra suas regras religiosas, empresas certificadoras fazem um importante papel de certificar as empresas processadoras de alimentos e os compradores de produtos para garantir que o produto passou por todas as exigências. Além da Cdial há outras duas certificadoras, a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) e o Centro Islâmico do Brasil.
“O Japão é um caso interessante, eles pedem produtos halal mesmo não sendo muçulmano porque a certificação não é apenas de cunho religioso, é também técnica, comprovando produtos de qualidade”, conta Saifi
Mercado
No caso da exportações de bovinos vivos, praticamente todo o comércio foi com os países da OCI. O total exportado foi de 178,5 mil quilos de peso vivo, o que respondeu por 99,7% do total vendido pelo Brasil. O comércio rendeu US$ 353,9 milhões. Já nos negócios de carne bovina foram de US$ 1,59 bilhão com a venda de 485,7 mil toneladas de carne. Esse volume representa 26% da exportação de carne bovina pelo País em 2019.
No acumulado de janeiro a setembro, as vendas de animais vivos somam US$ 184,5 milhões por 93,6 mil quilos de peso vivo (98% do volume total negociado pelo Brasil). E as vendas de carne, nesse mesmo período de 2020, estão em US$ 867,4 milhões pela venda de 250,6 mil toneladas (17,2% do total de carne bovina exportada até setembro aos membros da OCI).
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