Por Marcelo de Rezende
A organização do processo produtivo na fazenda leiteira, através da manipulação adequada dos fatores de produção envolvidos com a atividade (terra, capital, trabalho e conhecimento aplicado), permite que um determinado potencial de produção seja alcançado, de maneira que viabilize economicamente o negócio em questão. A correta exploração de tais fatores nos direciona naturalmente rumo à chamada economia de escala, que nesse caso objetiva um aumento na quantidade de leite produzido sem um aumento proporcional nos custos de produção da atividade, isso graças à diluição de custos frente a um novo patamar de produção alcançado. Por essa lógica, quanto maior o volume de leite produzido, melhores deveriam ser os resultados econômicos obtidos com a produção.
Essa, porém, não tem sido a realidade de um grande número de propriedades leiteiras, que investem, crescem e ainda assim não obtêm o resultado financeiro esperado com a atividade. O primeiro ponto a ser considerado na avaliação desses casos se relaciona ao tipo de investimento realizado. Investimentos não produtivos, ou seja, aqueles que não promovem impacto direto sobre o aumento da renda gerada com a atividade – e que normalmente são realizados em estruturas e equipamentos mal dimensionados, inadequados e de alto valor -, acabam por encarecer o sistema de produção, ainda que de alguma maneira venham a facilitar o trabalho ou melhorar a estética do negócio.
Investimentos estruturais deveriam ser realizados a reboque do aumento da produção, no momento em que o produtor percebesse o risco de estrangulamento da estrutura produtiva já existente, de maneira a evitar gargalos que pudessem impedir a expansão do seu negócio. Mas não é isso o que ocorre na prática. O que se vê em grande parte das fazendas brasileiras é uma estrutura exageradamente grande frente a uma produção diminuta; prova disso é o fato de diversos levantamentos realizados em fazendas produtoras de leite mostrarem investimentos de mais de R$ 3.500 para a produção diária de cada litro de leite na fazenda. Esse índice, que nos permite relacionar estrutura com produção, é obtido a partir da divisão do capital total investido na atividade (soma de investimentos em terra, rebanho, máquinas, equipamentos e instalações) pela produção diária da fazenda. Valores de investimento/litro de leite produzido quando superiores a R$ 1.500 normalmente indicam excesso de capital investido frente a uma produção escassa, ou seja, muita estrutura para pouco leite.
Eficiência
Quando o crescimento da produção não está atrelado a ganhos de eficiência no processo produtivo, e sim ao simples aumento da estrutura de produção, não são obtidos os resultados econômicos esperados pelo maior volume de leite produzido. O aumento da renda gerada na fazenda leiteira se relaciona a investimentos que melhorem o desempenho animal, principalmente aqueles vinculados a alimentação e manejo do rebanho, que se traduzem em maior produção e melhor reprodução dos animais, aspectos oriundos não da disponibilidade de capital, mas da gestão diária e eficiente da atividade, aspectos esses constantemente negligenciados em nossas fazendas de leite.