“Hoje, quando marcamos os nossos animais deixamos outras marcas na cadeia produtiva”, diz Carmen Perez

A pecuarista foi uma das palestrantes do evento promovido pela Câmara Brasil-Alemanha, o “Don’t forget the animals: Congresso Internacional Virtual de Bem-Estar Animal”

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“Hoje, quando marcamos os nossos animais deixamos outras marcas na cadeia produtiva”  foi dito pela pecuarista Carmen Perez, dona da Agropecuária Orvalho das Flores, localizada no município de Araguaiana (MT).

Carmen contou a sua história, desde que assumiu a propriedade aos 22 anos de idade, e como ela tem mudado o manejo do gado visando o bem-estar animal. Hoje, a pecuarista é uma defensora dessa bandeira, como deixar de marcar ou diminuir a marcação a fogo, um processo doloroso e que pode interferir na índole do animal para toda a sua vida


Carmen participou, na manhã desta quarta-feira (18/11), do “Don’t forget the animals: Congresso Internacional Virtual de Bem-Estar Animal”, evento promovido pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e que reuniu cerca de 800 pessoas dos dois países. Nesta etapa, as discussões a cargo de professores e lideranças, também de Brasil e Alemanha, abordaram aspectos de bem-estar para animais de produção. Amanhã, será a vez dos animais de companhia.

O professor Mateus Paranhos, da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Jaboticabal), que pesquisa bem-estar há mais de duas décadas, diz que há quatro grandes desafios nessa seara da produção. Para ele, ainda há resistência em tratar os animais como seres sencientes por parte dos produtores e da população em geral. “A sociedade demanda ações que resultam tratar bem os animais. É óbvio que há argumentos econômicos, como a diminuição da taxa de mortalidade, de doenças”, afirma. “Mas fazer porque é bom está se tornando uma exigência do consumidor.” 

Professor Paranhos, da Unesp. Foto: divulgação

O segundo elemento, de acordo com Paranhos, é o ceticismo em relação à adoção de boas práticas de bem estar animal na rotina de trabalho com os animais de produção. “Muita gente entende isso como algo que pode causar prejuízo ou trazer mais custo para cada unidade de produção, o que não corresponde à verdade”, diz. Os outros dois pontos são a resistência ao uso de analgésicos e anestésicos nos procedimentos dolorosos, como castração, mochação, corte de bico e de cauda nas diferentes espécies de produção, e o uso abusivo de antibióticos. “Para mim, os antibióticos são um problema que acredito de caráter mundial”, afirma Paranhos.

Quem vai pagar a conta

Para Katharina Kluge, do Ministério da Nutrição, Agricultura e Defesa do Consumidor da Alemanha, o centro de todo o trabalho em seu país tem como foco a visão do consumidor e as suas percepções. “Na Alemanha, as expectativas em relação ao bem-estar animal estão aumentando”, diz ela. “A situação para os produtores não é tão fácil, porque há uma imensa cobrança da mídia e de organizações de proteção animal.” 

Mas os produtores estão fazendo a sua parte e organizando as duas principais cadeias de proteínas para mudanças significativas: suínos e aves. No caso do manejo dos suínos, nos próximos 15 anos todas as celas de gestação, nas quais as porcas ficam por 70 dias, serão abolidas na Alemanha. No caso das gaiolas para galinhas poedeiras, elas praticamente já não existem mais e a partir de 2026 serão proibidas por lei. Outra medida são as intervenções de castração de leitões. A partir do ano que vem será obrigatória a anestesia geral ou a imunocastração.  Também vem sendo preparada uma lei a ser apresentada em 2021 que visa proibir o abate de pintinhos de um dia, colocando como alternativa os aviários de dupla aptidão, ou sexagem no ovo.

Mas, para Katharina, a maior de todas as discussões é o financiamento para o bem-estar animal. Ou seja, quem vai pagar a conta. “Como os produtores podem compensar os seu custos?”, pergunta. Uma das opções é via consumidor. A etiquetagem vem sendo discutida na União Europeia. Na Alemanha, elas começaram em 2016 e a previsão é de que em meados do ano que vem haja uma legislação. “A estratégia é mostrar ao consumidor pelo que ele estará pagando”, afirma Katharina.

Na Alemanha, assim como no Brasil, bem-estar animal é tema que consta na Constituição do País. “O Brasil tem legislação muito específica sobre isso. A própria constituição brasileira já determina, em seu Artigo 225, o bem-estar  animal, inclusive com relação à fauna e animais domésticos”, diz Roberto Jaguaribe, embaixador do Brasil na Alemanha. “Temos também entendimentos internacionais fundamentais para a promoção dessa questão junto à União Europeia desde 2013 e no âmbito da comissão mista  Brasil-Alemanha, a cooperação em agronegócio e inovação trata também da questão de bem estar animal.” Para ele, o tema é crescente em três dimensões de evidências. A primeira é de natureza ética, da interação do homem com o seu ambiente. A segunda é funcional, à medida que tratamentos adequados dos animais têm resultados melhores em termos de eficácia de produção. E a terceira questão é de mercado, justamente o que Katherine também colocou, que é a percepção dos consumidores.

Bem-estar e a pandemia

Em tempos nos quais a humanidade atravessa o grande desafio da pandemia de Covid-19, o professor Jörg Hartung, da Fundação Universidade de Medicina Veterinária em Hannover (TiHo), pontuou justamente a mudança social e como o setor deverá responder às demandas de produção. “Com a Covid-19, a humanidade está passando por uma das piores crises de saúde e econômica dos últimos 100 anos. Nós temos 55 milhões de infectados e 1,3 milhão de mortos”, diz Hartung. “É uma zoonose bem típica, que passou de animal para ser humano. Isso não é novidade nenhuma. Na biologia, nós sabemos que não existe grandes barreiras entre animal e ser humano. Então, ser humano e animal tem uma única saúde.” 

Jörg Hartung, da Fundação Universidade de Medicina Veterinária em Hannover. Foto: divulgação

Ele pontua que, cada vez mais, o conceito de “One Health” ganhará escala global. Isso porque, embora a cadeia da Sars-Cov2, a Covid-19, seja de ser humano para ser humano, os animais de produção são indiretamente atingidos porque o grande número de infectados em abatedouros levou ao fechamento dessas unidades. A consequência, de acordo com Hartung, é que os sistemas de produção e abate serão cada vez mais automatizados, uma tendência que deve se acelerar.  “Acredito que teremos que melhorar a automação, para que não haja impasse nos abates”, diz ele.

O brasileiro Luiz Tejon, professor e jornalista que foi o mediador entre todos os convidados, abriu o evento lembrando que o agronegócio no mundo tem uma letra a acrescentar na sigla ESG (Environmental, social and corporate governance). Na tradução do inglês ESG significa governança ambiental, social e corporativa, uma referência a fatores de sustentabilidade que podem ser medidos e que vêm determinando a saúde e a atratividade de empresas em busca de investimentos, capital e mercado. “Ao olhar os elos das cadeias produtivas nós acrescentamos o A, de animal, na sigla ESG”, diz Tejon.

 

 

 

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