Monique Eloit, diretora geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), declarou à agência Reuters que “nenhum país está imune ao risco de ser atingido pelo vírus mortal da peste suína africana (ASF, na sigla em inglês). “Estamos realmente enfrentando uma ameaça global”, alertou Monique, em entrevista concedida em Paris, na França.
A doença atinge drasticamente rebanhos de porcos da China, maior produtora mundial de carne suína, além muitos outros países da Ásia. “O risco (de entrada da doença) existe para todos os países, sejam eles geograficamente próximos ou geograficamente distantes, porque há uma infinidade de fontes potenciais de contaminação”, destacou Monique.
A peste suína africana, que não é prejudicial aos seres humanos, pode ser transmitida por um turista que traz de volta um sanduíche de presunto ou salsicha de um país contaminado, jogando-o no lixo, que, por sua vez, pode ser reutilizado pelos agricultores para alimentar seus porcos, explicou a diretora.
Existem riscos adicionais ao negociar animais vivos e produtos alimentícios além-fronteiras e de pequenos criadores que usam resíduos de restaurantes ou estações de trem para alimentar seu estoque. A doença se espalhou rapidamente para vários países do sudeste da Ásia, incluindo Vietnã, Camboja, Laos, Coréia e Filipinas, e é provável que mais países sejam atingidos nos próximos meses.
“No curto prazo, continuaremos a ter mais surtos nos países infectados. Os países vizinhos estão em alto risco e, para alguns, a questão é quando serão infectados”, afirmou Monique, à Reuters, enfatizando que os controles são difíceis de implementar.
Efeito colateral
A disseminação da peste suína africana não apenas devastou a população de porcos asiáticos, mas também provocou um aumento nos preços internacionais da carne suína e atingiu mercados de ração animal, como milho e soja. Também pesou nos resultados de grupos de commodities agrícolas devido à menor demanda de ração para criação de suínos.
O rebanho de suínos da China era 40% menor em setembro em relação ao mesmo período do ano anterior, informou o ministério da fazenda no início deste mês. Mas vários na indústria acreditam que as perdas são muito maiores.
Pequim promoveu uma série de políticas em setembro visando apoiar a produção nacional de suínos e garantir o abastecimento de carne no país. A diretora da OIE disse que as medidas são adequadas, mas precisam ser totalmente implementadas. “Existe uma diferença entre o que é decidido no papel, e como chegamos a aplicá-los na prática, especialmente em países muito grandes, com uma grande variedade de produção”, observou ela.
Na Europa, a situação é diferente porque os surtos dizem respeito principalmente a javalis, acrescentou Monique, à agência Reuters. A peste suína africana foi encontrada em fazendas na Europa Oriental, mas sua propagação foi contida depois de medidas de segurança rígidas implementadas em alguns países.
