A produção mundial de carnes (bovina, suína e de frango) registrará um déficit de 18 milhões de toneladas em 2020, em comparação à oferta esperada para este ano, prevê o experiente analista de mercado Simon Quilty, que assina um extenso artigo sobre o tema publicado nesta terça-feira, 15 de outubro, pelo portal australiano Beef Central.
“Em 30 anos atuando no comércio de carne, nunca vi um déficit global de proteínas (como o esperado para 2020), e não conheço nenhum outro precedente nos últimos 100 anos que rivalize com a situação provocada pela Febre Suína Africana (ASF)”, declara Quilty, referindo-se ao vírus que dizimou o rebanho de porcos na China e também provocou perdas nos plantéis de mais nove países asiáticos.
“Para mim, essas são águas desconhecidas que provavelmente quebrarão muitos recordes (de preços e de fluxo de embarcações, além de mudanças nos padrões consumo)”, estima o analista, que acrescenta: “Nada voltará a ser o mesmo depois de 4 de agosto do ano passado, quando a febre suína apareceu pela primeira vez na China “.
Na semana passada, relembra Quilty, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou seu relatório de oferta e demanda mundial, descrevendo as suas perspectivas sobre a demanda global de carne bovina, suína e de frango para 2020. Resumidamente, escreve o analista, o USDA está prevendo que a produção global de carne bovina será 1% maior em 2020; a oferta carne suína cairá 10% e a de frango crescerá 4% no próximo ano. Em termos físicos de carne em todas as três proteínas, de acordo com o USDA, isso equivale a um déficit de 6,4 milhões de toneladas em 2020, em comparação com os dados de produção estimados para este ano.
No entanto, o analista se mostra mais pessimista em relação aos números do USDA. “Acredito que as perdas na China provavelmente serão muito maiores do que as estimativas conservadoras do USDA e que um déficit global de proteínas de 18 milhões de toneladas é mais provável”, projeta.
Para o USDA, a produção de carne suína da China vai sofrer redução de 25% no próximo ano. Na avaliação de Quilty, porém, a oferta chinesa registrará um tombo de 54%, “o que significaria um déficit global de proteína três vezes superior à estimativa do USDA, ou seja, equivalente a perdas de 18 milhões de toneladas”, ressalta.
Comércio internacional
O número de estabelecimentos de exportação mundiais aprovados pela China para carne bovina é 285, bem acima da quantidade de fábricas de suínos habitada pelo país asiático atualmente (de 207). “Isso aponta para um desejo genuíno da China de comprar mais carne bovina globalmente”, destaca o analista.
O USDA estima que, em 2020, as importações de carne suína da China aumentarão 35%; as importações de carne bovina subirão 21%; e as de frango terão acréscimo de 20%. “Minhas estimativas são muito mais altas, com a importação de carne de porco crescendo 40%; a de carne bovina tendo acréscimo de 57%; e de frango com elevação de 66%”, estima ele. Ou seja, “minhas estimativas acrescentam para a China mais um milhão de toneladas de importações em 2020”, escreve
O declínio estimado em 4% da disponibilidade total de proteínas na China neste ano registrou um aumento médio nos preços de proteína de 62% no mercado doméstico do gigante asiático, relata Quilty. Em comparação ao mesmo período do ano passado, os preços atuais de suínos no varejo da China subiram 81%; os da carne bovina tiveram alta de 19%; e os valores do frango registraram aumento de 23%.