Dentro de poucos dias, uma ação será impetrada na justiça do Rio Grande do Sul pela classe de pecuaristas do Estado. Nela, os pecuaristas pedem o fim do desconto de 2% do peso da carcaça a cada bovino abatido, referente a perda pelo resfriamento da carne. O valor parece baixo. Mas, uma estimativa para 2019 mostra que se porcentual pode ter significado cerca de R$ 120 milhões que o produtor deixou de receber e foi parar no bolso dos frigoríficos. O valor é referente a renda de cerca de 8,7 mil toneladas de carne bovina – 2% da produção no Estado.
“A perda por resfriamento é uma perda da indústria e não do produtor rural. E há outro detalhe muito importante sobre o pedido do fim desse desconto: essa cobrança só acontece no Rio Grande do Sul. Em nenhum outro há esse tipo de desconto”, afirma o produtor rural Lauro Sagrilo.
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Sagrilo é médico veterinário e presidente da ala Rural Jovem do Sindicato Rural de Santiago, Unistalda e Capão do Cipó, com sede em Santiago (RS), município que fica na porção centro-oeste do Estado e a cerca de 460 quilômetros da capital, Porto Alegre.
A ação foi iniciada pelo Sindicato Rural de Santiago e logo contagiou os demais 81 sindicatos rurais do Estado. Na sexta-feira (27/11), todos foram unânimes numa reunião virtual promovida pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul): apoiaram o fim da cobrança. Além da própria Farsul, a decisão é apoiada pela Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac).
A notícia da cobrança, por parte dos frigoríficos, foi tema da reportagem da Revista DBO “Taxa de frio gera embate no RS”, publicada na edição de abril deste ano. Confira abaixo.
“Tentamos por muitas vezes conversar com a indústria para que eles deixassem a cobrança livremente, mas eles não quiseram. Agora, tentamos por meio da justiça a extinção deste desconto. Em alguns frigoríficos o desconto pode chegar a 3%”, diz Sagrilo.
A história desse desconto remete à época das cooperativas que atuavam fortemente no abate de animais no Estado. Segundo Sagrilo, naquele momento até fazia sentido o desconto, porque a taxa acabava beneficiando os próprios produtores. Atualmente, a realidade é outra, pois a maioria dos frigoríficos está nas mãos da iniciativa privada.
Boiada magra
A taxa acentua, ainda mais, uma grave e triste realidade no Estado que, na média, está muito atrás de grandes produtividades no País. Apesar de o Rio Grande do Sul ser o oitavo maior produtor de carne bovina no País, é o 22º em termos de rendimento de carne por animal abatido.
Segundo o IBGE, o Estado abateu cerca de 2 milhões de bovinos, o que rendeu 432,9 mil toneladas de carne em 2019. Isso significa que cada bovino rendeu 220 quilos de carne. Bem diferente do Estado de São Paulo, com 270 quilos, o primeiro lugar, seguido por Mato Grosso, com 269 quilos por animal, e Paraíba e Goiás, com 260 quilos por bovino.
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