Na fazenda Agropecuária Orvalho das Flores, em Araguaiana (MT), os bezerros, ao nascer, recebem um tratamento especial e incomum para a grande maioria das propriedades de pecuária do País: uma bela massagem relaxante. Há, até, um pequeno colchão específico para o animal receber essa sessão.
Esse tratamento ao animal é apenas uma prática de bem-estar animal (BEA), entre tantas outras que já foram adotadas na fazenda. A idealizadora de todo o projeto de BEA da Orvalho das Flores é a pecuarista Carmen Perez, uma das mais prestigiadas lideranças femininas do agro e uma das grandes referências na adoção de boas práticas agrícolas com ênfase ao bem-estar animal.
Carmen tem se tornado uma educadora em BEA e uma ferrenha defensora das bos práticas. No programa DBO Entrevista, que foi ao ar nessa quarta-feira (25/11), ela conversa com as jornalistas Vera Ondei, coordenadora de Comunicação Digital da DBO, e Maristela Franco, editora-chefe da revista DBO, e explica que adotar essas boas práticas na fazenda não tem mistério algum, tem apenas dedicação. Fala, também, como acredita em uma educação contínua para ter resultados.
“Para adotar práticas de bem-estar animal, o produtor precisa ter vontade de fazer. É preciso acabar com a mentalidade de que a prática é cara, que dá trabalho, que não é possível porque é difícil. Difícil por quê? Por que é tão difícil adotar práticas de bem-estar animal, se a informação está disponível e é gratuita? O que é exigido é uma doação de tempo. Na verdade tudo é difícil, se a gente for pensar. Tudo exige dedicação e perseverança, mas é muito possível dedicar o tempo para isso”, conta Carmem Perez.
Os passos para a BEA
Muita comunicação entre os profissionais da fazenda, explicação de todos os procedimentos, treinamentos com acompanhamento de perto, aprendizado do comportamento do rebanho, e muita repetição de instruções. Esse é o início do processo de como lidar com os animais de uma forma mais tranquila e que, no final das contas, gerará menos estresse ao animal, menos contusões e acidentes com os próprios peões, e o retorno econômico às propriedades. Tudo, dentro de um processo possível de educação continuada.
“Os ganhos do bem-estar animal estão na parte produtiva. Com ele, não tem contusão na hora da vacina, não há formação de abcessos por causa de uma aplicação de vacina mal feita, a qual são perdidos até 4 quilos de carne no frigorífico”, diz Carmem.
Grandes mentores
Desde que começou a comandar a propriedade da família, logo aos 22 anos, Carmen vem se espelhando e buscando ensinamentos em duas grandes personalidades do bem-estar animal: o zootecnista Mateus Paranhos, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Jaboticabal (SP), com pós-doutorado em BEA na Universidade de Cambridge; e a americana Temple Grandin, zootecnista, produtora rural e uma grande pesquisadora das bos práticas de manejo com os bovinos. Para ela, Paranhos e Temple são seus mestres absolutos.
“O professor Paranhos me ensinou que é muito importante respeitar o ritmo da equipe, ao se adotar mudanças. Isso porque elas têm um processo. Quando se começa a implementar um trabalho de BEA, ele não acontece do dia para noite, então o ideal é passar uma informação por vez.”
“Já a Temple é uma pessoa que inspira muito, por todas as dificuldades que ela passou na vida. Primeiro, sendo mulher nos anos de 1970; depois sendo autista, e, terceiro, colocando as questões do bem-estar animal numa sociedade que nunca tinha escutado esse termo.”
Confira a entrevista na íntegra:
Saiba mais:
http://www.grupoetco.org.br/publicacoes_bovinos_de_corte.html