Por Francisco Beduschi Neto
Com a posse do novo presidente americano, Joe Biden, as questões ambientais voltam a ser prioridade na maior economia do mundo. Biden já começa a cumprir algumas das propostas de campanha, por exemplo, voltou ao acordo de Paris e começou a cobrar a conservação das florestas. Mas, mais interessante para nós é a proposta de um aporte de US$20 bilhões para apoiar ações neste sentido. Partindo do pressuposto que essas três propostas se concretizem, como a pecuária nacional pode se beneficiar disso?
Para conseguir se beneficiar é necessário analisar três fatores do mercado: Oferta; Demanda; e Operação. Na Oferta, as projeções do Ministério da Agricultura 2020/2030 mostram um aumento da produção de 16% neste período. Vale ressaltar que é esperado que esse aumento se dê por melhoria da produtividade, por exemplo: redução de idade e aumento do peso de abate. Na Demanda, o mesmo estudo mostra que o consumo doméstico deverá crescer apenas 10%, então será necessário expandir mais a participação no mercado internacional para manter equilibrados os dois lados da balança.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), atualmente a China (Continente + Hong Kong) compra 62% do volume exportado pelo Brasil. No acumulado de janeiro a novembro a China comprou 1.143 mil toneladas, seguida por Chile (106mil ton.), Egito (88mil ton.) e EUA (52mil ton.). Por outro lado, a China que viveu a crise da Peste Suína Africana em 2019, e reduziu a produção de carne suína em 90%, está revertendo este quadro. Segundo o Outlook 2020-2029 da FAO, o rebanho deve voltar aos patamares anteriores até o final de 2022 e o abate deve atingir a quantidade de 2018 já em 2025. Assim é razoável admitir que o país se mantenha forte comprador na primeira metade dessa década, mas com declínio gradual de demanda na segunda metade.
Num cenário de vendas concentradas e retomada da produção de bens substitutos no mesmo mercado, será necessário diversificar os compradores para seguir expandindo. Para isso os quesitos socioambientais serão fundamentais e é neste ponto que entra a Operação pois precisaremos responder onde e como o boi está sendo criado, e temos boas notícias neste sentido. Para citar apenas dois exemplos: no Pará produtores e frigoríficos se uniram e estão desenvolvendo uma plataforma online para ajudar àqueles que desejam regularizar pendências socioambientais; no Mato Grosso a Liga do Araguaia, um movimento de produtores rurais, promove a adoção de práticas sustentáveis na pecuária.
Ao dar escala a esses e outros bons exemplos, dar transparência aos resultados, e comunicar progresso, poderemos acessar mais e novos mercados. Será possível também acessar mais recursos, além dos US$20 bilhões de Biden, poderemos retomar os aportes no Fundo Amazônia para projetos de pagamento por serviços ambientais. Vale lembrar que dia 14/01 foi publicada a lei da Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, ferramenta essencial para fazer este dinheiro chegar às mãos dos produtores.
Assim, temos os meios – a floresta em pé, a produção com qualidade, e as ferramentas institucionais para vender mais e ainda trazer mais recursos para o Brasil. Mas, para ter direito a esses benefícios primeiro precisamos cumprir nossas obrigações, como por exemplo, finalizar a implementação do Código Florestal onde cada um dos dois lados tem um papel a cumprir.
A conclusão é que para acessar mais e novos recursos e seguir aumentando a participação num mercado global que prioriza cada vez mais a sustentabilidade e a transparência, a pecuária brasileira precisa: dar escala aos bons exemplos; dar transparência aos resultados; e manter boa comunicação com o mercado. Será por meio desse tripé de ações que poderemos seguir expandindo a produção nacional.
Francisco Beduschi Neto é Agrônomo, Especialista em Agronegócio Sustentável da NWF – National Wildlife Federation